Após relaxar por quatro dias em 4000 Islands, no Laos, chegou a hora de seguir viagem e mudar de cenário mais uma vez. O plano era sair das ilhas na terça-feira às 8h da manhã e chegar em Siem Reap, no Camboja, por volta do meio-dia de quarta-feira. Ou seja, 28 horas de viagem!!
Pegamos um barco de Dom Kom até o pequeno vilarejo no continente e de lá uma van nos levou até a fronteira. Foi quando os nossos problemas começaram. No posto de fronteira do Laos, os guardas exigiram US$ 1 de “taxa de saída”. Quando eu pedi um recibo, eles informaram que não seria possível. Contrariados, eu e a Stela ´pagamos a taxa e cruzamos a fronteira a pé, não sem antes trocar o resto dos meus KIPs por dólares, a uma taxa exorbitante.
Ao chegarmos no lado cambojano da fronteira, passamos primeiro por um posto médico, na verdade uma tenda, para checagem da gripe suína. Após verificar os nossos passaportes e tirar nossa temperatura (a minha era 35,5 graus celsius, excelente segundo o médico), fomos informados sobre a taxa de US$ 1. Mais yuma vez pedimos um recibo, e mais uma vez ele nos foi negado.
O próximo passo foi o visto de entrada no Camboja. No posto de checagem, preenchemos os formulários e na hora de pagar a taxa de entrada (que seria de US$ 20), ficamos sabendo de um pequeno adicional de US$ 3. Nessa hora eu já estava a ponto de arranjar uma briga com algum dos guardas de fronteira, pois é claro que o meu pedido por um recibo foi seguido de sorrisos irônicos. Quandoeu estava achando que a palhaçada tinha acabado, fomos informados de que teríamos que pegar o carimbo de entrada em outro posto,e que claro, havia uma “taxa de processamento” de US$ 1 – sem recibo. Em pouco mais de 20 minutos eu fui obrigado a pagar propina para guardas de dois países diferentes, coisa que eu nunca fiz em 34 anos vivendo no Brasil.
Mas finalmente começamos a nossa viagem no Camboja. Após algumas horas por estradas poeirentas, paramos na cidade de Kratie para almoçar. Foi quando eu fiquei sabbendo que não, o ônibus não chegaria em Siem Reap ao meio-dia da quarta, mas sim às 10h da noite da terça. Apesar da óbvia vantagem de chegar 14 horas mais cedo, o fato é que chegaríamos em uma cidade estranha à noite e ainda seríamos obrigados a procurar por um hotel. Para encurtar a história, nós não chegamos em Siem Reap às 10h, mas sim à 1h30 da madrugada. Eu já estava mordendo o cotovelo de raiva, pois isso é obviamente um esquema para fazer com que os turistas sejam levados para alguns hotéis específicos, que provavelmente pagam comissão para os motoristas de tuk-tuk. Mas finalmente conseguimos nos instalar e saímos para um jantar no meio da madrugada.
Apesar de todos esse problemas iniciais, meu mau-humor passou rapidamente no dia seguinte, pois Siem Reap é uma cidade incrível, cheia de restaurantes e cafés e lotada de turistas, todoas à procura das espetaculares ruínas de Angkor, a antiga sede do império Khmer, o maior sítio arqueológico do planeta. E, realmente, Angkor rivaliza com todas as ruínas que eu visitei no Egito e em Petra.
Decidimos comprar um passe de três dias para explorarmos os principais pontos da região. No primeiro dia, visitamos as duas principais jóias do antigo império. Primeiro, rumamos para Angkor Thom, cidade fortificada que, no auge do império,pode ter abrigado até um milhão de habitantes. Lá visitamos uma série de templos cercados por florestas como o Bayon, construído pelo rei Jayavarman VII, o Baphuon, erguido pelos reis Suryavarman I e Udayadityavarman II, entre outros.
Em seguida, rumamos de Tuk Tuk para a principal e mais visitada ruína, Angkor Wat, que ainda é considerada a maior estrutura religiosa do mundo. A enorme estrutura é cercada por um enorme fosso de águas brilhantes foi construída como templo funerário para o rei Suryavarman II. A visão do enorme templo é realmente incrível, e eu, de certa maneira, experimentei sentimentos e sensações semelhantes àquelas que passei quando visitei as pirâmides do Giza ou as ruínas de Petra.
Após algumas horas passeando pelos corredores de Angkor Wat, rumamos para Phnom Bakeng, templo construído no topo de uma montanha e lugar perfeito para apreciar o pôr-do-sol. Tão perfeito que,após as 17h, o lugar fica infestado por milhares de turistas, todos disputando um espaço, tirando fotos, comendo…malditos turistas!!!
No segundo dia, acordamos às 4h30 da manhã e rumamos novamente para Angkor Wat, onde, acompanhados por mais uma horda de malditos turistas, presenciamos um incrível nascer do sol. Em seguida, visitamos 7 templos distribuídos pelo complexo,entre eles:
Prasat Kravan, pequeno templo construído em 921 DC. Ao contrário das maiores construções de Angkor, as cinco torres foram erguidas utilizando-se tijolois, e não pedras, Além disso, segundo estudos a obra não foi responsabilidade dos nobres do reino.
Banteay Kdei, um monastério budista cercado por enorme muralhas erguido pelo rei Jayavarman VII no final do século 12 DC. Próximo ao templo encontra-se Sra Sang, um lago artificial medindo 800m por 400m usado apenas pelo rei e suas esposas.
Ta Keo, construído por Jayavarman V em homenagem a Shiva, foi o primeiro templo de Angkor erguido inteiramente com arenito.
Ta Prohm, certamente um dos mais espetaculares templos de todo o complexo de Angkor (para mim, foi com certeza o ponto alto), Ta Phrom também é conhecido como o templo da floresta. O apelido vem do fato de que, ao contrário de outros templos da região, aqui a mata praticamente engoliu o templo. Atualmente, boa parte da vegetação foi removida para ajudar a preservar a construção, mas ainda é possível encontrar muitas árvores enormes que simplesmente se fundiram às paredes de Ta Phrom, criando verdadeiras esculturas feitas de pedras e raízes. Esse templo ficou mais famoso há alguns anos pois foi cenário do filme Tomb Raider.
No nosso último dia explorando Angkor, visitamos três pequenos templos na cidade de Roulos: Preah Ko, Bakong e Lolei.
Em Siem Reap, nós também visitamos o pequeno Museu das Minas Terrestres, que possui uma história interessante. Aki Ra era um garoto quando o Khmer Vermelho, liderado por Pol Pot, instaurou um reino de terror no país. Separado dos pais – que nunca mais veria com vida – ele foi recrutado ainda menino pelo Khmer para instalar minas em todo o país. Após alguns anos, Aki Ra se voltou contra as barbaridades cometidas pelo Khemr Vermelho e, em 1978, se juntou ao exército vietnamita quando este invadiu o Camboja.
Desde então ele vem lutando para livrar o país das minas que, em parte, ele mesmo ajudou a instalar. Acredita-se que ainda existam cerca de 6 milhões de minas no Camboja, instaladas pelos exércitos francês, americano, vietnamita e também pelo Khmer Rouge. Em mais de 30 anos de trabalho – inicialmente feito de forma completamente independente e improvisada – Aki Ra acumulou uma vasta coleção de armas, bombas, morteiros, misseis e minas terrestres que hoje integram a coleção do museu.
Atualmente, o museu também serve como lar para um grupo de 12 crianças que perderam os pais em algum dos muitos conflitos que assolaram o país nos últimos 50 anos. Conflitos que, de forma perversa, ainda continuam a matar ou ferir cerca de 30 pessoas por mês, vítimas dos explosivos que já se tornaram parte da vidas da população do Camboja.
Desde 1997, mais de 15º nações assinaram o tratado de Ottawa, que bane a produção, o estoque o uso e a venda de minas terrestres. China, Rússia, Índia e os Estados Unidos da América são os maiores países a não se jutntar ao tratado.
Abaixo, mais alguns panoramas diretamente da camera da Stelinha. Clique nas imagens para ampliar.